Somos macacos que abstraem

No final de Junho de 2025 golpistas roubaram R$ 500.000.000,00 de contas reservas do banco central do Brasil. O nome e nem o valor são exatamentes estes, mas, esse é um dinheiro que outros bancos deixam sob custódia do banco central como uma medida de segurança e quanto aos valores, bom o valor pode variar entre 300 milhões a 4 bilhões de Reais. Vamos combinar que é muito dinheiro independente de ser o mínimo ou o máximo.

Especialistas e curiosos especulam como isso foi feito, que tipo de falha pode ter ocorrido e se estamos seguros com toda essa mágica que acontece dentro dos computadores e na internet. Vamos cavar um pouco nessa toca e ver onde vamos sair.

As primeiras abstrações

Em algum momento na nossa evolução percebemos que viver juntos e fazer as coisas juntos é mais vantajoso, comemos melhor, temos mais conforto e vivemos mais. Daí pra entendermos que podemos guardar o que coletamos para consumir/usar depois me parece meio natural, quem acumula pode ter dois problemas.

Não saber o que fazer com esse excedente e jogar fora. Mas e se eu entregasse para outro macaco esse meu excesso e pegasse outra coisa que esteja sobrando com o meu vizinho de caminhada?(nomades, lembra...)

Nascem as trocas ou escambo. Um tempo depois que paramos de andar pra lá e pra cá, fincamos raízes e passamos a ser menos móveis, dá pra empilhar algumas coisas naquele cantinho da caverna. As trocas devem ter aumentado bastante nessa época, até que chegou naquele ponto de ficar complicado. Quantas laranjas por uma melancia? E por ai vai, era preciso abstrair novamente.

O tal do dinheiro

Pedras, conchas ou moedas de barro. Imagina a loucura que foi os primeiros tempos para convencer o cara da caverna do lado que duas conchas do mar(que serviam apenas como enfeite) agora valem cinco batatas. Mas a gente é bom nessa parada de convencimento e isso passou a ser aceito, nasce o comércio. Olhando assim em retrospectiva parece muito idiota e na real até é, mas, o fato que usamos esse mesmo mecanismo até hoje.

Acumulamos o excesso de produção e combinamos uma maneira neutra de trocar bens e serviços desde de as primeiras conchas e pedras. Apenas trocamos a moeda - passamos a usar outras como ouro, prata, pimenta ou bitcoin. E aqui as coisas começaram a ficar mais abstratas do que nunca, voltando ao caso do roubo de 500 milhões de Reais(ou conchas).

Segundo as primeiras informações, uma organização criminosa, contatou um desenvolvedor de software que trabalhou na empresa que desenvolvia algumas soluções para uma empresa de serviços do banco central do Brasil. Esse cidadão tinha acesso privilegiado a contas e máquinas onde podia transferir valores(conchas ou pedras) - de uma gaveta virtual (também conhecida como registro de banco de dados) para outras dessas gavetas. A partir desta transferência, esse monte de conchas se perde no mundo. Um verdadeiro labirinto de tuneis, caixas e alçapões se abrem e se fecham na velocidade da luz e perdemos alguns caminhões de conchas e pedras que agora não pertencem mais ao seu antigo dono e estão numa caverna tão distante que nem o poder de investigação que um governo de estado tem, consegue resolver esse enigma.

Genial como uma pessoa comum, sem importãncia alguns podem dizer, consegue liberar o transporte de toneladas de uma coisa que nem existe na vida real, esse é o poder da abstração. O que não vai ser nem um pouco abstrata será a pena que essa pessoa vai ter que cumprir, se é que essa pessoa também não seja a invenção de alguma mente privilegiada de uma macaco com alto poder de abstração.

Mas a pergunta que não sai da minha cabeça é, que diabos esse maluco vai fazer com tantas conchas?!